Figura de Tiradentes revela a construção política de um herói nacional
Neste 21 de abril é celebrado o Dia de Tiradentes. A trajetória de Joaquim José da Silva Xavier, nome verdadeiro de Tiradentes, carrega mais camadas do que os livros escolares costumam revelar. Embora conhecido por sua atuação na Inconfidência Mineira, movimento conspiratório contra o domínio português no final do século XVIII, sua imagem heroica foi moldada décadas após sua execução, com um objetivo bastante específico: consolidar a jovem república brasileira.
Nascido em 12 de novembro de 1746, na então Capitania de Minas Gerais, Tiradentes perdeu os pais ainda criança e foi criado por um tio. Com ele, aprendeu o ofício de dentista amador, o que lhe rendeu o apelido pelo qual entrou para a história. Além disso, Tiradentes também se aventurou como minerador e mascate antes de ingressar na carreira militar, em 1775.
A partir de 1780, assumiu o posto de alferes, comandando as tropas que patrulhavam o Caminho Novo, estrada vital que ligava Vila Rica ao Rio de Janeiro. Suas atividades e observações no cargo lhe renderam profunda insatisfação com o sistema colonial, o que o levou a integrar a Conjuração Mineira, nome também atribuído à Inconfidência Mineira.
Em 1789, a conspiração chegou às autoridades portuguesas, resultando na prisão dos envolvidos. Tiradentes foi capturado no Rio de Janeiro, onde estava atuando em nome do movimento.
Após três anos de investigações e inquéritos, ele foi o único a receber a pena de morte. A execução por enforcamento ocorreu em 21 de abril de 1792, data que viria a se tornar feriado nacional.
Durante o período monárquico, a lembrança de Tiradentes permaneceu quase apagada da memória popular. Foi apenas com a Proclamação da República, em 1889, que sua imagem ressurgiu – agora sob uma nova ótica.
Os republicanos viam na figura de Tiradentes um símbolo ideal para representar a luta contra o regime anterior e exaltar os valores republicanos. O mártir condenado pela Coroa portuguesa virou exemplo de resistência e patriotismo.
A nova narrativa foi tão forte que Tiradentes passou a ser retratado como uma figura quase religiosa, com representações que lembram Jesus Cristo crucificado, reforçando sua imagem de sacrifício pela pátria.
A oficialização do feriado de 21 de abril veio com o Decreto nº 155-B, de 14 de janeiro de 1890, poucos meses após a proclamação do novo regime.
Era o início da criação simbólica de um herói nacional, necessário para legitimar a República junto à população. Em 1965, a partir de sua inserção no Livro dos Heróis da Pátria, Tiradentes se tornou oficialmente o patrono cívico do Brasil.
Muitos anos depois, a Lei nº 10.607/2002 reafirmou o 21 de abril como feriado nacional, mantendo viva a lembrança de Tiradentes. Hoje, Tiradentes é símbolo de coragem e resistência.
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