Evento contará com muita música tradicional e danças seculares
No dia 8 de novembro, Catalão, reconhecida oficialmente como a Capital da Congada em Goiás, se tornará o epicentro da cultura afro-brasileira durante o 2º Encontro Estadual de Congadas. O evento, realizado pela Anunciação Cultura com patrocínio da CMOC Brasil por meio da Lei Rouanet, promete uma imersão nas raízes históricas e religiosas que moldaram o sudeste goiano.
Aos 79 anos, o General das Congadas de Ouvidor, Ozark Rosa de Almeida, ainda ecoa o mesmo som do tambor que aprendeu a tocar aos 9 anos de idade. Ao lado de nomes como Silésio Teixeira da Silva, presidente da Irmandade de Catalão, e Fabrício Alves, capitão do Catupé Cacunda Vermelho e Branco de Três Ranchos, ele representa a força viva de uma tradição que não se escolhe — nasce com o povo.
As Congadas são mais que manifestações festivas, sendo símbolos de resistência que atravessam gerações, mantendo viva a devoção a Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia. O capitão Fabrício Alves explica: “A Congada é uma manifestação cultural, religiosa, de matriz africana. Ela já acontecia em África, no país do Congo, onde os povos tiravam um dia no ano para desfilar seus grupos para o rei e a rainha do Congo ver. Vindo para o Brasil, os negros que foram escravizados associaram a festa aos festejos do Rosário. A primeira irmandade do Brasil que se tem registro é a de Ouro Preto”.
O que começou fora das igrejas, como forma de resistência à exclusão, hoje reúne 26 ternos apenas em Catalão, mantendo viva a memória de um povo que nunca abandonou sua fé. “Negro no tronco apanhava, negro no tronco sofria, mas nunca perdeu sua fé em Deus e a Virgem Maria”, canta Silésio, lembrando que “É dom. Nossa Senhora escolhe. Meu avô foi capitão, meu pai não foi, mas eu fui. É legado familiar”.
Organizar um terno de Congada é uma arte coletiva. Cada grupo conta com generais, capitães, fiscais, alferes, caixeiros e soldados, totalizando de 40 a 100 integrantes. Tudo é feito à mão: caixas, fardas, bandeiras e instrumentos carregam séculos de história.
“As pessoas veem o terno bonito dançando, mas não sabem a dificuldade. O capitão chega em casa cansado do trabalho e ainda tem que arrumar as coisas do terno. Mas quando você vê aquele terno na rua, a emoção compensa tudo”, relata Silésio.
Para ele, a palavra que define a Congada é luta. “Porque a Congada chegar onde ela chegou é muita luta. O que o nosso povo sofreu para estar aqui hoje foi muita resistência. Para você pôr um terno na rua é luta a todo instante, a todo momento”.
Ozark reforça o poder espiritual que move a tradição: “Ensinamos que quando vestem a farda para louvar Nossa Senhora, não são pessoas quaisquer, são escolhidos por ela”.
Hoje, as crianças tomam conta dos ternos, garantindo a continuidade da festa. “Quando você vê o terno cheio de criança, você sabe que o legado não vai morrer”, emociona-se Silésio. Fabrício completa: “A Congada é como uma bananeira. Ela cresce, dá fruto, morre, mas do lado já nasce outra. Esse é nosso ciclo, infinito”.
Nos dias 29 e 30 de setembro, Ouvidor e Três Ranchos sediaram oficinas artístico-pedagógicas que aproximaram alunos, professores e comunidades das tradições congadeiras. As atividades, com a presença de Luciano Gentile, consultor da Unesco no Brasil, integraram o pré-lançamento do encontro estadual, permitindo que as crianças aprendessem sobre instrumentos, danças e cantos sagrados.
A tecnologia também se tornou uma aliada dessa preservação. “Hoje uma pessoa que nunca viu Congada pode conhecer pela internet. Recebemos convites de todo o Brasil. Transformamos a modernidade em ferramenta para promover a tradição”, destaca Fabrício.
O 2º Encontro Cultural das Congadas de Goiás promete superar todas as expectativas. Cortejos pelas ruas históricas de Catalão, gastronomia típica, apresentações de múltiplos ternos e atividades abertas ao público farão da cidade o maior palco da fé e da cultura popular goiana.
“O que vai ficar na história é esse encontro. Porque aqui em Catalão a própria Congada já se divulga sozinha. A população abraça, vive e respira essa tradição”, garante Silésio. Para Ozark, o sentimento é de admiração e responsabilidade. Já Fabrício resume o espírito que move cada congadeiro em uma única palavra: “Fé. Porque quem tem fé tem tudo. Quem tem fé tem amor, segue tradições e vence as batalhas do dia a dia”.
SE LIGA
Encontro Cultural das Congadas do Estado de Goiás
Data: 8 de novembro
Local: Catalão (GO)
Ingressos: Entrada gratuita
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Apreciador de boas histórias, filmes e games. Repórter no portal Gazeta Culturismo.
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