Goiás investirá R$ 1 milhão em bandas, fanfarras e corais por meio de edital; leia a entrevista

O Governo de Goiás lançou recentemente um edital para o Fundo de Arte e Cultura (FAC), destinando um total de R$ 6,7 milhões para diferentes áreas artísticas. Dentre as novidades, destaca-se a criação de uma categoria exclusiva de R$ 1 milhão para bandas, fanfarras e corais.

Yara Nunes, Secretária de Estado da Cultura, ressalta que o edital “assegura transparência e acesso, proporcionando um processo claro e igualitário na seleção das bandas para eventos. Além disso, pela normatização, estabelece regras que padronizam práticas e elevam a qualidade das apresentações. A criação deste edital é fundamental para identificar como podemos apoiar o surgimento de novas bandas e o fortalecimento das já existentes. Isso inclui a aquisição de materiais, a contratação de maestros e músicos, além de ações como a manutenção de espaços e a reforma de instalações.“

Ainda conforme a secretária, o edital promove o fomento cultural, oferecendo recursos financeiros e logísticos que sustentam a manutenção e o desenvolvimento das bandas. Também proporciona reconhecimento, conferindo visibilidade às bandas e atraindo novos integrantes, o que fortalece a comunidade musical. “Outro ponto importante é a formação e capacitação, que visa aprimorar as habilidades dos músicos e a gestão das bandas. Por fim, o edital incentiva a integração e a troca de experiências entre diferentes grupos“, comenta Yara Nunes.

Ensino musical é fundamental na educação de crianças e adolescentes

As bandas e fanfarras desempenham um papel crucial na formação de crianças e adolescentes, proporcionando uma introdução à música e estimulando o desenvolvimento cognitivo e motor dos estudantes. Contudo, a falta de recursos específicos para a manutenção dessas atividades tem prejudicado sua continuidade.

Além do aspecto musical, as bandas também contribuem para a formação social dos alunos. O professor de música Paulo Rodrigues da Silva, que atua nas bandas das escolas José Lobo e Edmundo Pinheiro de Abreu, acredita que a participação em bandas melhora a concentração, a disciplina e a coordenação motora, além de incentivar o senso de responsabilidade dos jovens. “A música tira a criança e o adolescente da ociosidade e dessa ligação extrema com a tecnologia, que consome quase todo o tempo deles hoje.”

Para Yara Nunes, a música auxilia de diversas formas no desenvolvimento e educação entre jovens e crianças. “A música estimula áreas relacionadas à linguagem, memória e habilidades cognitivas, promovendo um aprendizado mais abrangente e criativa. Além disso, o processo de aprender a tocar um instrumento ou participar de atividades musicais exige disciplina e perseverança, valores essenciais para o desenvolvimento pessoal. A música também oferece uma forma de explorar e compreender emoções, contribuindo para a saúde mental e o bem-estar dos alunos. A socialização desempenha um papel importante nesse contexto, pois favorece a interação social e desenvolve habilidades de comunicação e empatia. Ademais, a música conecta os alunos com suas culturas, promovendo diversidade e inclusão“, destaca a secretária.

Bandas e fanfarras necessitam de apoio em Goiás

Apesar da relevância das bandas e fanfarras, a falta de recursos financeiros compromete sua continuidade. Atualmente, existem mais de 100 bandas no estado de Goiás, mas a continuidade das atividades pode ser comprometida por falta de recursos para manutenção de instrumentos e uniformes.

Paulo Rodrigues da Silva destaca a importância de um fundo exclusivo para essas práticas: “Se tratarmos somente das escolas públicas estaduais, não há uma verba específica para a banda, como ocorre com disciplinas regulares. Quando conseguimos algum recurso, é por meio de rifas ou da direção, que tenta disponibilizar algo, mas que não é suficiente para a manutenção dos instrumentos e uniformes.”

Um passo importante, mas ainda insuficiente

A criação do fundo de R$ 1 milhão para bandas e fanfarras é vista como um avanço, mas especialistas acreditam que ainda há muito a ser feito. Para fortalecer essa prática cultural, seria necessário um apoio financeiro anual garantido, sem a dependência de editais pontuais.

De acordo com o professor Paulo Rodrigues, antes existiam mais concursos e festivais, além de oportunidades para apresentações. No caso dos desfiles cívicos, a redução de bandas e fanfarras nas avenidas goianas é nítida.

A Federação Goiana de Fanfarras e Bandas organiza anualmente campeonatos, mas enfrenta dificuldades para obter apoio do poder público. Segundo Paulo Rodrigues, a falta de organização na destinação de recursos é um dos principais entraves. “Quando apresentam projetos para desenvolver campeonatos, encontram barreiras. O argumento sempre é a falta de verba, mas sabemos que o problema está na organização. Precisamos de transporte, alimentação e espaço para apresentações.”

Para Yara Nunes, a redução desses festivais e campeonatos pode ser um dos agravantes: “é um dos principais fatores que agravam a situação, pois reduz as oportunidades de apresentação, desestimulando a formação e a continuidade das bandas. Além disso, as questões educacionais desempenham um papel importante, já que muitas escolas priorizam atividades acadêmicas e esportivas em detrimento da música e das artes. A cultura e os interesses da juventude também têm mudado, com uma crescente atração pela música popular e eletrônica.“

A secretária ressalta que esses fatores evidenciam a necessidade urgente de revitalizar o interesse e o apoio às tradições culturais das bandas em Goiás. “Nesse sentido, ao lançar um edital voltado às bandas, o governo do estado tem se comprometido a implementar mecanismos que fomentem e valorizem esse resgate cultural, buscando reintegrar essas tradições à vida dos goianos.”

O que mais é necessário para valorizar a tradição de bandas e fanfarras em Goiás?

A implementação de políticas públicas mais estruturadas, que incluam espaços para apresentações e fomento a eventos, poderia garantir que as bandas e fanfarras continuem desempenhando seu papel social e cultural. “Precisamos de leis que assegurem recursos anuais para que esse trabalho continue e se expanda, mas isso fora de editais, sendo algo fixo e garantido”, conclui Paulo Rodrigues.

O investimento atual é um primeiro passo na direção certa, mas o futuro das bandas e fanfarras em Goiás dependerá da continuidade desse apoio e da estruturação de políticas mais abrangentes para a música nas escolas.

Inscrições de projetos no edital para bandas, fanfarras e corais

Os interessados em inscrever projetos no Fundo de Arte e Cultura de Goiás podem consultar os editais e as formas de submeter propostas no site https://goias.gov.br/cultura/fundo-de-arte-e-cultura/editais-fac-2025/ .

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