Chapada dos Veadeiros recebe celebração histórica da cultura popular em 2025

Festival chega à 25ª edição com programação estendida e homenagens ao Cerrado

25ª edição do Encontro de Culturas Tradicionais na Chapada dos Veadeiros - Banda Panela de Barro de Goiabeiras (Foto: Michelly Matos)

A pequena Vila de São Jorge, situada no coração da Chapada dos Veadeiros, se prepara para viver dias intensos de celebração, memória e resistência cultural. De 13 a 20 de setembro de 2025, o local será o epicentro da 25ª edição do Encontro de Culturas Tradicionais, evento que vai muito além de uma programação artística. Com um legado de duas décadas e meia, o festival é um verdadeiro símbolo da diversidade e da ancestralidade brasileira.

Neste ano especial, o evento rompe seus próprios limites temporais. A programação começa ainda em julho e se estende até o fim de setembro. A proposta é ampliar a experiência com encontros, romarias e festejos que envolvem diversas comunidades tradicionais, criando pontes entre saberes, práticas e gerações.

“Chegar a 25 anos no Brasil fazendo cultura popular, com pé no território e compromisso com os povos tradicionais, não é fácil, é quase um milagre logístico e político”, afirma Juliano George Basso, coordenador do Encontro. “O que sustentou o Encontro até aqui foi uma rede de gente comprometida — mestres, mestras, produtores, artistas, comunidades — que acredita que faz sentido”.

Cerrado inspira nova fase do Encontro de Culturas Tradicionais

Além da comemoração simbólica, o Encontro de Culturas Tradicionais de 2025 assume um tom ainda mais significativo ao integrar sua agenda ao Mês do Cerrado. O bioma, conhecido como o berço das águas do país, ganha protagonismo em um momento de reflexão ambiental e cultural.

“O Cerrado é o berço das águas do Brasil, guardião das nascentes que alimentam as maiores bacias hidrográficas da América do Sul. Celebrar o Encontro em setembro é um ato de reverência, mas também de resistência: é afirmar a centralidade do Cerrado na luta pela vida. Alinhar nossa programação ao calendário do Cerrado nos permite reconectar ainda mais profundamente com o bioma, com a terra e com os povos que o defendem há séculos”, explica Juliano.

O festival contará com atividades prévias como o Festival de Forró e a XVII Aldeia Multiétnica, ambos em julho, além do Encontro na Aldeia, com shows e vivências que reforçam o compromisso com a pluralidade cultural. Os eventos se complementam, criando uma jornada imersiva para o público.

Encontro transforma tradição em política cultural

Criado em 2000, o Encontro cresceu junto com as discussões sobre patrimônio imaterial no Brasil. Tornou-se um espaço de articulação entre políticas públicas e práticas culturais populares. Em 2023, foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial de Goiás, coroando anos de dedicação.

Segundo Juliano, o festival incorporou práticas que mais tarde se tornariam referência em políticas públicas, como o Cultura Viva e a valorização de mestres e mestras como patrimônio vivo. “Tudo isso que a gente já fazia — rodas, cortejos, transmissão entre gerações — estava ali nas políticas que foram surgindo”, relembra.

Para ele, o Encontro é mais do que um evento: é uma plataforma de transformação social. “Hoje, o Encontro é muito mais do que um evento anual. É território político, é ponto de partida e ponto de chegada para quem acredita que cultura é ferramenta de transformação. A gente não só mostra o que é patrimônio imaterial, a gente vive ele. E na Chapada dos Veadeiros, no coração do Cerrado, a gente segue semeando esse Brasil que canta, dança, reza, luta e inventa outros futuros possíveis”.

Tradições do Cerrado seguem vivas no Encontro de Culturas Tradicionais

O Encontro consolidou a participação de expressões tradicionais fundamentais para sua identidade. Grupos como a Caçada da Rainha de Colinas do Sul, o Congo de Niquelândia, além dos ternos e folias de São João D’Aliança, marcam presença com força ancestral. Destaque também para o Terno de Moçambique do Capitão Júlio Antônio e para a Comunidade Kalunga, maior território quilombola do país.

Esses grupos carregam a força de tradições seculares, mantidas com respeito ao tempo, ao território e aos modos próprios de cada povo. Eles não apenas se apresentam: vivem e transmitem conhecimento a cada canto, dança e reza.

Para quem nunca participou, Juliano deixa uma provocação sensível. “Às vezes, o que transforma não é o que a gente veio buscar, mas o que encontra pelo caminho. O Encontro é um espaço para se colocar em relação: com os povos, com o território e com outras formas de ver o mundo”. A programação completa será divulgada em breve, mas as movimentações já começaram. O Cerrado pulsa, e com ele, pulsa também o Brasil profundo.

XXV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros
Data: De 13 a 20 de setembro de 2025
Local: Vila de São Jorge – Alto Paraíso de Goiás (GO)

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Pollyana Cicatelli
Autor: Pollyana Cicatelli

Jornalista pós-graduada em Comunicação Organizacional e especialista em Cultura, Arte e Entretenimento. Com ampla experiência em assessoria de imprensa para eventos, também compôs redações de vários veículos de comunicação. Já atuou como agente de viagens e agora se aventura no cinema como roteirista de animação.

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