Festival na cidade de Goiás premia obras com olhar crítico, homenagens emocionantes e mostra força da cultura na transformação social
A 26ª edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, o Fica 2025, terminou neste domingo (15), com ares de consagração e resistência cultural. Realizado na histórica cidade de Goiás, o evento celebrou obras que uniram arte, crítica social e preservação ambiental. O grande vencedor foi o longa Tijolo por Tijolo, que conquistou quatro troféus importantes, incluindo o prêmio Cora Coralina, no valor de R$ 35 mil.
A cerimônia de premiação aconteceu no Cine Teatro São Joaquim, com a presença de autoridades, cineastas e representantes da cultura. A diretora Victória Álvares emocionou o público ao comentar a construção do longa durante a pandemia: “Esse nome remete, obviamente, à vida de crise, de aumento da construção da casa, mas remete também a como a gente conseguiu construir esse filme. A gente filmou Tijolo por Tijolo num contexto de pandemia, num país que não tinha Ministério da Cultura. É importante a gente celebrar nossas vitórias, mas lembrar também das nossas trajetórias de luta, não é mesmo? A gente precisa ter audácia. A nossa alegria é uma tecnologia ancestral sobre a vivência, então é com a nossa alegria, é levando a saudade, o encantamento, a esperança e essa crença de que é possível a gente mudar a nossa realidade para os cinemas, para os corações das pessoas. Eu fico muito grata com esse reconhecimento”, declarou.
O festival distribuiu mais de R$ 220 mil em prêmios em diferentes mostras competitivas. Entre os destaques, o curta Marés da Noite levou o prêmio Acari Passos, e Entre as Cinzas, produção goiana, venceu o prêmio João Bennio. Ambos chamaram atenção pela sensibilidade estética e profundidade temática.
A Mostra Washington Novaes foi a mais disputada, premiando obras com forte engajamento político e poético. Além dos prêmios principais, os filmes Nós Vivemos Aqui e Mãos à Terra receberam menções honrosas do júri oficial. Este último também foi reconhecido com o Prêmio Fiocruz, pelo impacto na discussão ambiental.
Presente na cerimônia, a cineasta nigeriana AnuOluwapo Adelakun, vencedora do Prêmio Fiocruz em 2024, recebeu pessoalmente sua premiação pelo documentário The Water Manifesto: Osun (Water for Gold). Sua fala emocionada reforçou o papel do audiovisual como denúncia e resistência diante das desigualdades globais.
A gastronomia ganhou espaço com o I Guia Gastronômico do Fica, que premiou os melhores estabelecimentos da cidade. O restaurante Sabor dos Anjos conquistou o primeiro lugar, seguido por Aroma Café com Arte e Bistrô Fênix, reconhecidos por suas receitas inspiradas nas raízes goianas.
O público teve papel decisivo na escolha, votando nos seus favoritos após degustações durante o festival. A iniciativa reforçou a união entre cinema, cultura e sabores locais, valorizando a identidade regional.
O homenageado desta edição foi o cantor Juraíldes da Cruz, referência da música goiana. “Minha mãe também era poeta e foi dela que eu herdei esse dom de poder dizer o que eu sinto, a impressão que eu tenho da vida através das músicas. A ela dedico esse reconhecimento e a todos que pela persistência não largaram na beira da estrada os seus objetivos e seus sonhos. Então, eu sinto que isso é fruto da persistência. Graças a vocês pelo reconhecimento, isso me deixa muito feliz”, declarou emocionado.
Outro homenageado foi o estilista Ronaldo Fraga, conhecido por seu olhar sensível à cultura brasileira. “Eu digo que eu tenho caminhado por várias terras e vários caminhos para um dia encontrar a cidade de Goiás. E hoje falo dela com amor e com intimidade como se aqui tivesse nascido. Eu prometo e pretendo realmente criar pontes e reforçar pontes, que só essas são indestrutíveis, são as pontes da cultura. E para receber essa homenagem de um festival, que é mais do que um festival, é um patrimônio afetivo dessa cidade, desse estado e desse país, eu fico”, afirmou.
Com o tema “Cerrado: a savana brasileira e o equilíbrio do clima”, o Fica promoveu debates, oficinas, sessões infantis, atrações musicais e fóruns com nomes de peso do audiovisual nacional e internacional. Foram seis dias de intensa programação gratuita, com foco em temas ambientais e sociais.
O evento é promovido pelo Governo de Goiás por meio da Secretaria da Cultura, com a UFG e a RTVE como correalizadoras. Conta ainda com parcerias de instituições como Unesco, Funai, Fiocruz, MapBiomas, entre outras. A infraestrutura teve apoio de órgãos estaduais, como Corpo de Bombeiros, Saneago e a Prefeitura da cidade de Goiás.
Mostra Internacional Washington Novaes
Prêmio Cora Coralina – melhor longa-metragem: Tijolo por Tijolo
Prêmio Carmo Bernardes – melhor direção: Tijolo por Tijolo
Prêmio Acari Passos – melhor curta ou média-metragem: Marés da Noite
Prêmio João Bennio – melhor filme goiano: Entre as Cinzas
Menções Honrosas do Júri Oficial: Nós Vivemos Aqui e Mãos à Terra
Prêmio José Petrillo – Júri da Imprensa: Tijolo por Tijolo
Prêmio Jesco Von Puttkamer – Júri Jovem: Tijolo por Tijolo
Prêmio Luiz Gonzaga Soares – Júri Popular: Encontro das Águas
Prêmio Fiocruz: Mãos à Terra
Mostra do Cinema Goiano
Melhor filme de longa metragem: Mambembe
Melhor filme de curta metragem: Entressonho
Melhor direção de longa metragem: Fabio Meira, por Mambembe
Melhor direção de curta metragem: Yorrana Maia, por Fidèle
Melhor direção de fotografia: Larry Machado, por A Mulher Esqueleto
Melhor roteiro: Yorrana Maia, por Fidèle
Melhor montagem: Afonso Uchoa, Fabio Meira e Juliano Castro, por Mambembe
Melhor personagem: Francisca Americo dos Reis, por Planta de Raiz Profunda
Melhor som: Theo Farah e Bruno Fiorezi, por Goiânia Rock City
Melhor trilha musical: Goiânia Rock City
Melhor direção de arte: Paulo César Alves, por A Mulher Esqueleto
Menção Honrosa: Jamming – O ano em que Junior Marvin morou em Goiânia
Mostra do Cinema Indígena e Povos Tradicionais
Melhor filme de Longa-metragem: Originárias
Melhor filme de curta ou média-metragem: Sukande Kasáká / Terra Doente
Menção Honrosa: ADOBE: Habilidades tradicionais da construção Kalunga
Mostra Becos da Minha Terra
Melhor filme: Atitudinal
Melhor direção: Carlos Cipriano, por Para Carlos
Melhor roteiro: Jadson Borges, por Lockdown
Melhor montagem: Helena Caetano, por Sol Noturno
Melhor som: Brisa Castro, por Tom de Ameaça
Receba as principais notícias diariamente em seu celular. Entre no canal de WhatsApp do portal Gazeta Culturismo clicando aqui.
Jornalista pós-graduada em Comunicação Organizacional e especialista em Cultura, Arte e Entretenimento. Com ampla experiência em assessoria de imprensa para eventos, também compôs redações de vários veículos de comunicação. Já atuou como agente de viagens e agora se aventura no cinema como roteirista de animação.
Copyright © 2024 // Todos os direitos reservados.