Em entrevista ao podcast do jornalista Domingos Ketelbey, professor critica o uso ideológico do debate sobre financiamento cultural no Brasil
O professor Lisandro Nogueira avaliou que a cultura se tornou um dos alvos mais fáceis do debate público no Brasil por causa da ausência de uma discussão séria sobre políticas de financiamento e prioridades do Estado. Durante sua participação no Domingos Ketelbey, podcast de política apresentado pelo jornalista Domingos Ketelbey, ele opinou sobre o Brasil como um país que trata a área cultural como “primo pobre”, enquanto ignora subsídios muito mais elevados destinados a outros setores da economia.
“Todo país do mundo patrocina cultura. O problema é que, no Brasil, não há debate. Não ficam claros os critérios”, afirmou Lisandro. De acordo com o professor, as polêmica recorrentes em torno da Lei Rouanet costumam ser usadas de forma seletiva e ideológica, sem considerar que áreas como agricultura, bancos, indústria, petróleo e planos de saúde recebem incentivos públicos muito superiores sem o mesmo nível de questionamento.
O professor também criticou o que classificou como “cinismo” no discurso público sobre financiamento cultural. “Descobriu-se agora que quem mais ganhou com a Lei Rouanet foi um cantor sertanejo. Enquanto isso, artistas com obra consolidada, como Gilberto Gil, receberam valores muito menores”, disse. Para ele, o problema não está no patrocínio em si, mas na falta de uma política clara, transparente e debatida para o setor.
Lisandro avalia que essa fragilidade é reflexo direto de um Congresso Nacional que evita enfrentar o tema de forma estrutural. “Não existe uma discussão séria sobre como deve funcionar o financiamento público da cultura no Brasil, no âmbito federal, estadual e municipal. Aí vira guerra ideológica”, afirmou. Na leitura do pós-doutor em Cinema, a cultura acaba sendo alvo justamente por concentrar pensamento crítico e produção simbólica em um país que ainda carece de um projeto consistente de nação.
Lisandro Nogueira é professor, pesquisador, crítico e curador de cinema, com atuação destacada no campo do audiovisual, especialmente em Goiás. É professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) desde o final da década de 1980, onde atua na área de cinema e audiovisual, contribuindo para a formação acadêmica, crítica e cultural de gerações de estudantes. Possui mestrado em Cinema e Televisão pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e doutorado em Cinema e Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). É autor do livro O Autor na Televisão, voltado à reflexão sobre autoria e linguagem no meio televisivo.
Ao longo de sua trajetória, Lisandro Nogueira atuou como crítico de cinema, com participações em programas de rádio e televisão, além de desenvolver um trabalho consistente como cineclubista e curador de mostras e festivais. Entre suas atuações mais conhecidas está a curadoria da mostra “O Amor, a Morte e as Paixões”, realizada em Goiânia, que reúne filmes nacionais e internacionais e se consolidou como um dos eventos cinematográficos mais relevantes da região. Também colaborou como consultor de cinema do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA).
No campo da gestão cultural, Lisandro Nogueira foi diretor da Cinemateca Brasileira, exercendo o cargo entre 2013 e 2014, período em que esteve à frente de uma das mais importantes instituições de preservação da memória audiovisual do país.
Sua trajetória é marcada pela defesa do cinema brasileiro, pela valorização da memória audiovisual e pela formação de público e de profissionais do cinema, sendo reconhecido por sua contribuição ao pensamento crítico, à curadoria e à cultura cinematográfica nacional.
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Jornalista pós-graduada em Comunicação Organizacional e especialista em Cultura, Arte e Entretenimento. Com ampla experiência em assessoria de imprensa para eventos, também compôs redações de vários veículos de comunicação. Já atuou como agente de viagens e agora se aventura no cinema como roteirista de animação.
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