Série mostra erros humanos e falhas estruturais que levaram ao acidente do voo 3054 e alerta para riscos atuais no aeroporto
A Netflix lançou na última quarta-feira (23) a série documental “Congonhas: Tragédia Anunciada”, que revive o drama do acidente aéreo mais mortal da história brasileira. Com direção de Angelo Defanti, a produção mergulha em detalhes estarrecedores do voo 3054 da TAM, que se chocou contra um prédio em 2007.
A colisão deixou 199 mortos e nenhuma responsabilização judicial até hoje. O caso ainda é considerado uma ferida aberta para os familiares das vítimas.
O documentário, dividido em três episódios intensos, analisa desde os erros técnicos e humanos até a omissão das autoridades. “Não foi um erro isolado, mas uma sucessão de falhas gravíssimas. Conforme estudávamos, renovava-se nosso pasmo”, afirmou Defanti em entrevista.
A ideia do documentário surgiu em 2016, durante uma visita de Defanti ao memorial das vítimas, que fica em frente ao aeroporto. Para ele, o local está sendo esquecido, assim como a tragédia. “Conforme as pessoas se esquecem da tragédia e de quem foi responsável por ela”, declarou o diretor ao portal Splash. Ele defende que o país deve manter viva a lembrança do acidente.
A série também humaniza a tragédia ao trazer depoimentos de parentes e especialistas, mostrando que por trás dos números havia vidas, histórias e famílias destruídas.
No dia 17 de julho de 2007, o voo 3054 decolou de Porto Alegre e enfrentou dificuldades ao pousar em Congonhas, São Paulo. O Airbus A320-233 não conseguiu frear na pista 35L, colidindo com um prédio da TAM Express e um posto de combustível.
A tragédia matou 187 pessoas a bordo e mais 12 em solo, tornando-se o acidente com o maior número de mortes da aviação brasileira. Uma investigação da Força Aérea Brasileira concluiu que a tragédia foi causada por uma combinação de falhas humanas, técnicas e estruturais.
Os manetes foram configurados de forma incorreta, e a pista estava sem as ranhuras necessárias para escoar a água da chuva. Mesmo após o recapeamento feito em junho, os groovings não foram aplicados.
O aeroporto operava sob os efeitos do chamado “Apagão Aéreo” de 2006, quando longos atrasos e caos aéreo pressionaram autoridades. Mesmo com a pista incompleta, Congonhas foi reaberto às pressas, desconsiderando alertas de segurança.
O reversor do motor direito do avião estava inoperante, situação permitida pela Airbus por até 10 dias. A presença de dois comandantes na cabine também contribuiu para erros de coordenação na hora mais crítica do voo.
Apesar das evidências, em 2015 a Justiça absolveu os quatro principais acusados, incluindo Denise Abreu, ex-diretora da ANAC, e Alberto Fajerman, vice da TAM. Segundo a sentença, não houve intenção de provocar mortes.
Após o acidente, a regulamentação da aviação brasileira passou por mudanças significativas. As companhias foram obrigadas a instalar alertas automáticos que avisam sobre erros na posição dos manetes.
Áreas de escape foram criadas, as pistas passaram a exigir groovings obrigatórios, e a Infraero reforçou a fiscalização e o treinamento das equipes de emergência. O número de voos por hora também foi reduzido.
Mesmo com as melhorias, o diretor Angelo Defanti alerta que o perigo persiste. Para ele, a privatização de Congonhas pode reabrir o caminho para decisões que coloquem o lucro acima da segurança.
A produção já está disponível no catálogo da Netflix.
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Jornalista pós-graduada em Comunicação Organizacional e especialista em Cultura, Arte e Entretenimento. Com ampla experiência em assessoria de imprensa para eventos, também compôs redações de vários veículos de comunicação. Já atuou como agente de viagens e agora se aventura no cinema como roteirista de animação.
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