Há MUDDAs por toda parte em Goiânia!

Era uma exposição “permanentemente temporária”, e todos sabiam disso. O Museu do Depois do Amanhã, o MUDDA, reuniu centenas de grafites, manifestos, lambes, exposições e outras manifestações da cultura de rua em Goiânia, resistindo sob um prédio de concreto desgastado pelo tempo. O espaço, que já foi sede da Secretaria de Cultura do Estado, arquitetado pelo renomado Gustav Ritter e que abrigou obras do artista Frei Confaloni, estava há anos em completo abandono. Foi nesse cenário de destroços que a arte urbana encontrou um meio de expressão, permitindo uma apropriação criativa. Entre infiltrações e escombros, brotou um acervo colaborativo com a participação dos principais muralistas, artistas visuais, músicos e cineastas goianos, transformando-se em um museu antrópico — entregue aos viventes e sobreviventes.

O MUDDA foi demolido na tarde desta segunda-feira, dia 18 de fevereiro de 2025. Mas não antes de ser o cenário para o filme “Noite de Jazz“, videoclipe do rapper goiano A.Jay, que foi gravado no domingo (dia 17), 1 dia antes da demolição. Este foi o último projeto artístico e cultural no Museu.

Para quem aprecia arte urbana, há MUDDAS por toda parte — em vielas, becos, prédios desocupados, em (des)construções abandonadas, em destroços, em objetos aparentemente sem sentido para a paisagem da cidade, mas que se ressignificam por meio de traços e cores. O Beco da Codorna, as pracinhas do Setor Sul e o Beco da Rua 8 e tantos outros espaços ainda guardam esse importante acervo, mesmo que em um cenário sujeito a “muddar”.

Isso diz mais sobre o quão resistente e mutável é a arte urbana, capaz de existir e persistir em cenários distópicos, sem perder sua essência contestadora e seu poder de comunicação — reinventando-se a cada nova adversidade.

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