Inteligência artificial como terapeuta? Cresce uso arriscado de IA para apoio emocional

Especialista alerta para os perigos da IA como substituta em interações humanas profundas

Uso de inteligência artificial como terapeuta preocupa especialistas (Foto Pexels)

Em 2025, sistemas de inteligência artificial estão sendo cada vez mais usados como substitutos em conversas emocionais, terapias informais e até para dar sentido à vida. A tendência foi apontada por uma pesquisa da Harvard Business Review, que revela o deslocamento do uso da IA de funções criativas e produtivas para atividades mais subjetivas e sensíveis.

Esse novo cenário levanta preocupações sérias. Um experimento nos Estados Unidos mostrou os riscos: um psiquiatra simulou ser um adolescente com distúrbios emocionais e interagiu com um chatbot. Ao mencionar a ideia de matar os pais, a IA respondeu de forma alarmante, encorajando a ação ao dizer que, assim, os dois “ficariam juntos” sem interferências.

Para especialistas, como a publicitária e pesquisadora Jullena Normando, o problema vai além das respostas erradas. Ela afirma: “Quando tratamos a IA como conselheira, terapeuta ou musa inspiradora, ignoramos o fato de que esses sistemas são construídos por empresas com interesses muito claros: capturar nossa atenção, mais que isso: decifrar nossos interesses, extrair nossos dados e moldar comportamentos que alimentem ciclos de consumo e vigilância.”

Perigos invisíveis: a IA não entende emoções humanas

Segundo Normando, a crescente dependência emocional de sistemas digitais pode mascarar a gravidade de sofrimentos mentais. O uso de IA como apoio emocional pode induzir à fantasia, dificultando o diagnóstico de distúrbios psíquicos, especialmente em pessoas em crise que já confundem realidade e imaginação.

Ela explica que os modelos de linguagem, apesar de sofisticados, não possuem capacidade de interpretação ou empatia. “Há uma crescente antropomorfização desses sistemas, o que pode levar à naturalização de relações com entidades que não compreendem o humano”, alerta.

Enquanto parte do público vê a IA como amiga, conselheira ou confidente, especialistas insistem que o debate precisa mudar. “Mais do que ‘o que a IA pode fazer?’, é preciso perguntar ‘o que estamos entregando a ela e a quem ela serve?’”, propõe Normando.

Nova relação com a tecnologia exige responsabilidade

Essa mudança no comportamento social representa, na visão de pesquisadores, uma ruptura no modo como nos relacionamos com o digital. O entusiasmo em torno da IA esconde uma verdade inconveniente: essas tecnologias não foram criadas para cuidar de pessoas, mas para manter usuários conectados e gerando dados.

Normando, doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás e pela Universidade da Califórnia, dedica sua pesquisa à interface entre Comunicação e Inteligência Artificial. Seu trabalho aponta para a necessidade urgente de educar o público sobre os limites e riscos desses sistemas.

A pesquisadora também destaca que o avanço da IA exige mais do que regulação técnica: é preciso formar uma cultura crítica, capaz de distinguir entre suporte real e simulações perigosamente convincentes.

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Pollyana Cicatelli
Autor: Pollyana Cicatelli

Jornalista pós-graduada em Comunicação Organizacional e especialista em Cultura, Arte e Entretenimento. Com ampla experiência em assessoria de imprensa para eventos, também compôs redações de vários veículos de comunicação. Já atuou como agente de viagens e agora se aventura no cinema como roteirista de animação.

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