Lisandro Nogueira comenta sobre a alta do cinema nacional em 2025

Produções nacionais atraem público, ganham prêmios ao redor do mundo e mostram força diante de desafios

Cena do filme "Vitória", com Fernanda Montenegro (Foto: Divulgação)

Nos últimos anos, o cinema nacional tem passado por um crescimento notável, tanto em bilheteria interna quanto em reconhecimento internacional. Após um período de retração, as produções nacionais voltaram a ocupar destaques em festivais, plataformas de streaming e salas de cinema. O público, cada vez mais interessado em histórias locais, tem impulsionado esse movimento.

Filmes como “Ainda Estou Aqui”, “O Agente Secreto” e “Vitória” ilustram essa nova fase. Com roteiros ousados, temáticas sociais importantes e narrativas intimistas, essas obras têm conquistado críticos e espectadores. Em 2023, o Brasil voltou a figurar com força em premiações internacionais, marcando presença em mostras como a de Berlim, Cannes e Sundance.

Em entrevista exclusiva, o professor e especialista em cinema Lisandro Nogueira destaca alguns motivos para o crescimento do interesse em filmes nacionais. “O cinema nacional cresceu bastante porque houveram grandes incentivos nos últimos três anos, e outro fator fundamental foi o filme ‘Ainda Estou Aqui’, que foi visto por mais de 6 milhões de brasileiros, ganhou prêmios no mundo inteiro e está sendo exibido em mais de 50 países”.

O papel das plataformas de streaming no cinema nacional

Além do prestígio em festivais, os filmes nacionais vêm ganhando espaço nas plataformas de streaming, que hoje são mais aliadas do cinema brasileiro. Netflix, Amazon Prime Video e Globoplay passaram a investir em séries e longas brasileiros, abrindo portas para novas vozes e públicos. Ainda assim, Lisandro comenta que não é o suficiente.

“As plataformas de streaming ainda têm pouca boa vontade com o cinema brasileiro. A Netflix, por exemplo, só incluiu o cinema brasileiro no catálogo por causa de lei, de pressão. Os brasileiros deveriam ter muito mais filmes disponíveis do que tem nos streamings”, acrescenta o professor.

Por outro lado, Nogueira aponta a existência de plataformas nacionais que são pouco conhecidas pela população. “Nós temos o Sesc Digital, o Itaú Cultural Play, que são plataformas gratuitas com muitos filmes brasileiros. Mas os streamings maiores ainda devem muito ao cinema brasileiro”.

O cinema nacional e suas abordagens

Um traço marcante das produções nacionais é o destaque para o lado dramático. Muitos filmes escolhem abordar as diferentes realidades pelo Brasil, a vida de figuras públicas ou histórias fictícias com a forte presença do drama e da melancolia em seus roteiros. Filmes como “Tropa de Elite”, “Cidade de Deus”, “Central do Brasil” e “O Auto da Compadecida” despertam uma grande sensibilidade no espectador.

“O melhor ultimamente é Ainda Estou Aqui, que é um melodrama sofisticado, com uma personagem muito forte. Filmes como esse têm um diálogo emotivo com o público. O cinema brasileiro faz cada vez mais filmes que têm essa emoção, mas não uma emoção que engana, é uma emoção que faz com que esse público tenha um interesse e se identifique com os personagens com a cara do Brasil”, diz o especialista.

O povo brasileiro é conhecido por ser mais caloroso do que outros povos. Em cenários como o do cinema, da música e até do esporte, é fato que o público brasileiro é aquele que mais consegue transmitir sua emoção. E, ao ver essa emoção nas telas, o público é atraído pelo sentimento de identificação, de que aquele trabalho foi feito especialmente para ele.

Além disso, o povo brasileiro não foge à luta, como bem diz o hino nacional. Muitos filmes nacionais retratam esse chamado contra injustiças, contra erros do passado que não podem ser esquecidos (e nem repetidos), e isso também pode ser um dos fatores fortemente atraentes ao público.

“Para mim, ‘Central do Brasil’ é um marco desse cinema brasileiro de qualidade que alcança o grande público, sem perder a sua densidade de personagens, sem perder o rigor estético, a produção esmerada. De 1999 para cá, temos tido filmes bem realizados, com atores de peso, que conseguem conquistar o público. O filme ‘Ainda Estou Aqui’ é um coroamento desse processo que continua desde 1999”, finaliza Lisandro Nogueira.

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