Goianos acreditam que produtora errou por não escolher a capital como cenário
A minissérie “Emergência Radioativa“, inspirada no acidente com o Césio-137 ocorrido em Goiânia no ano de 1987, está sendo gravada nas cidades paulistas de Sorocaba e Osasco. A decisão de não utilizar a capital goiana como cenário das gravações, onde o caso realmente aconteceu, gerou críticas de moradores, artistas, produtores e ex-gestores da cidade.
Considerado o maior acidente radioativo fora de uma usina nuclear, o fato ganhou repercussão internacional à época. Mesmo com a atual infraestrutura de Goiânia, a produção da Netflix optou por filmar em outros municípios, o que tem provocado frustração entre os goianos.
O ex-secretário de Cultura de Goiânia, Eduardo de Souza, questionou a escolha. “Por que Goiânia está fora da série do Césio 137? A tragédia aconteceu aqui. As locações estão aqui. Os sobreviventes estão aqui. Os profissionais da cultura também. Então, por que a produção está sendo realizada em Sorocaba?”, indagou.
Para Cláudia Fernandes, produtora cultural renomada em Goiás, a cidade possui total estrutura para acolher qualquer série, principalmente “Emergência Radioativa“, com fatos que ocorreram no local. “Não é pelo protagonismo de estar à frente. Foi nessa cidade, a gente passou por isso, a gente viveu isso. Então eu acho que é um erro levar as gravações para outro lugar”, acredita.
Criada por Gustavo Lipsztein, com direção de Fernando Coimbra e produção da Gullane, a minissérie acompanha a atuação de médicos e físicos na tentativa de conter os efeitos da contaminação e salvar a população. A narrativa será conduzida como um thriller dramático, com foco no esforço coletivo para enfrentar a tragédia. “’Emergência Radioativa‘ resgata, por meio da ficção, um evento histórico quase esquecido no país, mas que diz muito sobre nós enquanto nação”, afirmou Coimbra.
Apesar da declaração do diretor, até o momento não há confirmação oficial de que Goiânia será utilizada como locação. Imagens feitas por moradores do bairro Éden, em Sorocaba, mostram a presença de veículos antigos usados nas gravações. Já em Osasco, no bairro Jardim Adalgisa, uma creche foi transformada em sede da Vigilância Sanitária para cenas da série, e diversos caminhões ocuparam vias públicas durante dois dias de filmagens.
Eduardo de Souza defendeu que Goiânia tem capacidade técnica e artística para receber a produção. “Foram levantadas alternativas técnicas e logísticas para filmar onde tudo realmente aconteceu? Não se trata de orgulho local. Trata-se de coerência histórica e respeito à memória coletiva. Goiânia tem estrutura, talento e, principalmente, propriedade sobre essa narrativa. É legítimo perguntar: Por que não aqui?”, destacou.
Cláudia Fernandes, que conhece bem a estrutura da capital, também opinou: “Aqui [Goiânia] tem excelentes atores, toda uma equipe de bastidor, tanto na parte técnica como de produção, ótimos hotéis e ótimas locações”, pontuou.
Além de Sorocaba e Osasco, a cidade de Santo André (SP) também foi utilizada como cenário para a série da Netflix sobre o Césio-137. Segundo o Diário do Grande ABC, o prédio da Câmara Municipal foi adaptado para representar o Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio de Janeiro, que na época acolheu os pacientes mais graves. A unidade da Marinha é referência nacional no tratamento de vítimas de acidentes radioativos.
O acidente foi classificado como nível 5 na Escala Internacional de Acidentes Nucleares. Segundo dados do Governo de Goiás, quatro pessoas morreram, 249 casos de contaminação grave foram registrados e cerca de 6.500 pessoas foram expostas à radiação em diferentes níveis. “Um trágico acontecimento desses não deve ser contado de qualquer maneira. A produção deveria ser fiel à história, que faz parte do passado da nossa cidade”, disse a cantora e apresentadora goiana Kelly Monteiro.
O desastre teve início em 13 de setembro de 1987, quando dois catadores encontraram um aparelho de radioterapia abandonado no antigo Instituto Goiano de Radioterapia. Dentro, havia uma cápsula com 19 gramas de Césio-137, um isótopo radioativo de brilho azul que, por sua aparência, despertou a curiosidade para o manuseio.
A cápsula foi vendida a um ferro-velho, onde acabou rompida, liberando radiação e contaminando centenas de pessoas. O brilho azulado encantou moradores, mas resultou em consequências devastadoras. De acordo com o Governo de Goiás, quatro mortes foram confirmadas, além de 249 pessoas contaminadas diretamente. Cerca de 110 mil indivíduos passaram por exames de triagem.
O acidente forçou a desinfecção de dezenas de locais e a criação de uma cidade apenas para o armazenamento de rejeitos radioativos.
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Jornalista pós-graduada em Comunicação Organizacional e especialista em Cultura, Arte e Entretenimento. Com ampla experiência em assessoria de imprensa para eventos, também compôs redações de vários veículos de comunicação. Já atuou como agente de viagens e agora se aventura no cinema como roteirista de animação.
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