Um projeto que parece mais um colapso criativo do que uma evolução confortável
O que Matuê prepara para seu novo álbum não soa como continuação, nem como retorno às raízes — soa como uma crise. Uma ruptura pensada, calculada e provocadora. Depois do impacto de 333, o artista agora sinaliza uma era mais densa, mais caótica e, principalmente, mais desconfortável.
Rumores indicam que o álbum deve se chamar “XTRANHO”, e o nome já funciona como manifesto: é como se Matuê estivesse assumindo que a obra não é feita para ser acolhedora. Ele vem deixando rastros visuais — capas sombrias, símbolos agressivos, imagens de faca, carros mergulhados em sombras — como se estivesse construindo um mundo distópico ao redor de si mesmo.
A sonoridade apontada até agora conversa com a estética rage: distorções pesadas, energia violenta e um abandono quase completo da suavidade estética que o transformou em fenômeno. Não é evolução — é ruptura. E ruptura, no ambiente do trap brasileiro, dificilmente é neutra.
A frase dele — “esse álbum vai separar fãs” — não é marketing. É aviso. E um aviso sombrio. Matuê parece não estar oferecendo exatamente música, mas tensão. É como se dissesse: “vocês querem minha sinceridade? Ela não é bonita.”
O mais crítico aqui é perceber que essa virada não é apenas estética; é identitária. Matuê sempre transitou entre dois mundos: o do trap introspectivo e o do pop-trap comercial. Agora, ele parece cansado desse equilíbrio e disposto a abandonar a segurança que ele mesmo construiu. Esse movimento não aponta para o underground — aponta para dentro, para um ponto de explosão pessoal e artístico.
E existe uma verdade incômoda: talvez o maior risco de XTRANHO não seja a rejeição do público, mas a possibilidade de que Matuê esteja apostando em uma estética que, se não vier acompanhada de profundidade real, pode soar vazia. O som pode ser agressivo, mas a agressividade precisa ter algo a dizer.
Se a promessa se cumprir, o álbum pode ser um dos mais divisivos da década no trap nacional — não por provocação gratuita, mas pelo peso de uma identidade artística que parece à beira de reinventar-se ou de se romper.
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Felipe Cordeiro é poeta, escritor e radialista com ampla experiência no universo da comunicação. Nordestino e estudante de Jornalismo na UFG, carrega na voz e na escrita a força da cultura popular. Apaixonado por música, arte e pelas histórias que brotam do cotidiano, dedica-se aos estudos e vive intensamente o que a rua, a noite e a vida têm a ensinar. Contato: [email protected]
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