Médica alerta sobre riscos e tratamentos
Cerca de vinte por cento da população mundial enfrenta algum grau de perda auditiva ou zumbido. No Brasil, o problema atinge milhões e impulsiona a campanha Novembro Laranja, criada em 2006 para reforçar a prevenção e a atenção aos sintomas que comprometem o bem-estar. Especialistas alertam que o cenário inclui aumento de casos de misofonia e hiperacusia, distúrbios pouco conhecidos e frequentemente negligenciados.
Estudos da Universidade de São Paulo mostram que cerca de cento e cinquenta mil brasileiros recebem diagnóstico de misofonia todos os anos. Já a hiperacusia não possui medição precisa no país, embora apareça com frequência ao lado de outras alterações auditivas. A campanha busca dar visibilidade a esse conjunto de sintomas que se espalham por diversas faixas etárias.
Profissionais de saúde reforçam que o impacto desses distúrbios é profundo. Eles afetam a rotina, o sono, o humor e a socialização, muitas vezes sem que o paciente perceba a gravidade. Por isso, a proposta da campanha é informar para estimular o cuidado e a busca por tratamento especializado.
A otorrinolaringologista Juliana Caixeta destaca que o conhecimento ainda é limitado. Segundo ela, mesmo após quase duas décadas, muitos brasileiros não compreendem a dimensão desses sintomas. A campanha, que inicialmente abordava apenas o zumbido, passou a incluir misofonia e hiperacusia em dois mil e dezessete para refletir a complexidade do cenário auditivo.
A médica observa que é frequente encontrar combinações de sintomas. “No consultório é comum receber pessoas com perda auditiva e outros sintomas, como o zumbido e a hiperacusia, e também tontura associada a zumbido”, afirma. Esses quadros interligados reforçam a necessidade de diagnóstico cuidadoso.
Grande parte dos pacientes interpreta o incômodo como algo passageiro ou parte da personalidade. Muitos acreditam ser apenas sensibilidade ou sinal de idade, e por isso demoram a procurar orientação médica. A demora amplia o desconforto e pode permitir a evolução do problema.
A campanha enfatiza que esses sinais não devem ser desconsiderados. O acesso a tratamento existe e pode transformar a qualidade de vida. A indicação é buscar otorrinolaringologistas ou otoneurologistas, capazes de investigar causas e orientar abordagens adequadas.
O tratamento depende do que desencadeia o sintoma. “A adesão ao tratamento depende do impacto que os sintomas causam na qualidade de vida do indivíduo. Como são sintomas crônicos, é comum que os pacientes procurem por soluções milagrosas, como medicações na internet. Entretanto, o tratamento quase sempre depende de mudanças de estilo de vida, como a realização de atividades físicas, ter um sono regular, se alimentar bem”, explica Juliana Caixeta.
O zumbido aparece como percepção de um som inexistente no ambiente. Pode lembrar apito, chiado, estalo ou sirene. Muitas pessoas relatam o incômodo de forma tão intensa que desenvolvem alterações emocionais, principalmente à noite, quando o silêncio reforça a percepção desse som persistente.
A médica lembra que o sintoma pode surgir por alterações no ouvido, no metabolismo ou até em estruturas neuromusculares. “O zumbido está principalmente associado à perda auditiva, mas também pode se manifestar devido a alterações e doenças metabólicas, musculares e neurológicas”, afirma.
O incômodo é comum em idosos, trabalhadores expostos a intensidade sonora elevada e jovens que utilizam fones por longos períodos em volumes altos. Situações simples, como acúmulo de cerume, também podem desencadear o sintoma. Há ainda causas ligadas a labirinto, como enxaqueca vestibular e doença de Meniere.
Estudos apontam relação crescente entre bruxismo, disfunção temporomandibular e zumbido, além de causas vasculares e reações a medicamentos. A investigação costuma ser ampla.
A abordagem depende da causa identificada. Entre as alternativas estão aparelhos auditivos, terapia sonora, ajustes na dieta e no sono, exercícios regulares, tratamento muscular e suporte multidisciplinar com psicologia, psiquiatria, fisioterapia e fonoaudiologia. “O tratamento quase sempre depende de mudanças de estilo de vida”, reforça a médica.
A misofonia provoca reações intensas diante de sons repetitivos e de baixa intensidade, como teclas, mastigação ou ruído de aparelhos domésticos. O processamento cerebral desses sons parece ocorrer de forma atípica, desencadeando irritação e até pânico.
A condição se associa com frequência a ansiedade, transtorno do espectro autista e estresse pós traumático. O esforço para evitar os sons pode gerar isolamento e desgaste emocional.
A hiperacusia surge como aumento da sensibilidade sonora, mesmo em volumes considerados normais para a maioria. A sensação pode evoluir para dor, exaustão e dificuldade em permanecer em ambientes de convívio social.
Muitos pacientes relatam que televisão, ventilador ou trânsito passam a soar como estímulos agressivos. A condição costuma aparecer ligada a perda auditiva, distúrbios do ouvido médio e, em muitos casos, ao próprio zumbido.
A diferença entre hiperacusia e misofonia está na origem do incômodo. Enquanto a primeira se relaciona à intensidade sonora, a segunda envolve resposta emocional a sons específicos. Por isso, um paciente com misofonia pode se irritar com o som de um aparelho elétrico e ignorar uma música alta, por exemplo.
Quando a hiperacusia é diagnosticada, a terapia sonora e o aconselhamento profissional são fundamentais. A dessensibilização é feita de forma gradual, com sons do ambiente ou aparelhos de amplificação quando há perda auditiva associada.
Na misofonia, o foco está no suporte emocional. A Terapia Cognitivo Comportamental é indicada para ajudar o paciente a lidar com a reação aos sons. O manejo de ansiedade e depressão também é parte do processo.
O diagnóstico é considerado decisivo. “Ao suspeitar de hiperacusia ou misofonia ou perceber o zumbido, o médico mais indicado a procurar é o otorrinolaringologista”, orienta Juliana Caixeta.
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Jornalista pós-graduada em Comunicação Organizacional e especialista em Cultura, Arte e Entretenimento. Com ampla experiência em assessoria de imprensa para eventos, também compôs redações de vários veículos de comunicação. Já atuou como agente de viagens e agora se aventura no cinema como roteirista de animação.
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