Goiás lidera estudo em costas brasileiras
Sete em cada dez praias brasileiras apresentam contaminação por microplásticos, segundo o maior levantamento já realizado sobre o tema no país. O estudo, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), foi publicado em outubro na revista internacional Environmental Research, da editora Elsevier, e integra o Projeto MicroMar, conduzido pelo Instituto Federal Goiano (IF Goiano – Campus Urutaí). A pesquisa identificou a presença dessas partículas em 709 das 1.024 praias analisadas em todo o litoral nacional.
Invisíveis a olho nu, os microplásticos representam uma ameaça crescente ao meio ambiente e à saúde humana. O artigo científico intitulado “Microplastic pollution across the Brazilian coastline: Evidence from the MICROMar project, the largest coastal survey in the Global South” é o primeiro resultado do Projeto MicroMar, que reúne mais de 100 pesquisadores e técnicos de instituições públicas e privadas de todas as regiões do país. Mesmo sem litoral, Goiás assume posição de destaque na coordenação de uma pesquisa de impacto global, consolidando o estado como referência em ciência ambiental.
Entre os autores do estudo está o doutorando Thiarlen Marinho da Luz, bolsista do Programa de Bolsas de Doutorado de Excelência da Fapeg. Ele destaca que o apoio da Fundação foi decisivo para o avanço do trabalho.
“O investimento da Fapeg vai além da formação individual; representa a aposta do estado em jovens pesquisadores capazes de enfrentar desafios ambientais de escala global”, afirma. De acordo com o pesquisador, compreender a origem dos microplásticos no continente é essencial para conter a contaminação dos oceanos.
A Fapeg investe cerca de R$ 3,9 milhões no edital que financia doutorandos de excelência, oferecendo bolsas de até R$ 7 mil mensais por três anos. Thiarlen, que também foi bolsista de mestrado da Fundação, integra hoje um grupo de jovens cientistas que simboliza a consolidação da pesquisa de ponta feita em Goiás. “Esse investimento demonstra sensibilidade e visão de futuro, fortalecendo a presença de Goiás na agenda científica internacional”, avalia.
Para o coordenador do MicroMar, professor Guilherme Malafaia, o projeto é “um marco para a ciência goiana, nacional e global”. Ele ressalta que o trabalho preenche uma lacuna histórica sobre a poluição por microplásticos nas praias do país.
“Mesmo sem litoral, Goiás demonstrou capacidade científica e organizacional para liderar a maior investigação costeira já realizada no Brasil. Isso evidencia a maturidade da ciência feita no interior do país”, comemora.
Os dados obtidos pelo MicroMar fornecem subsídios concretos para a formulação de políticas públicas e estratégias de gestão costeira. O estudo se alinha à Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP), do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), e a projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional, como o PL 2524/2022, que limita o uso de plásticos descartáveis, e o PL 1874/2022, que propõe a Política Nacional de Economia Circular. “O MicroMar fortalece a base técnica e social para a implementação dessas políticas e para uma transição sustentável ‘da fonte ao mar’”, explica Malafaia.
A pesquisa analisou 1.024 praias em 211 municípios, cobrindo 7.500 quilômetros do litoral brasileiro entre abril de 2023 e abril de 2024. Os resultados confirmam que a poluição plástica é ampla, persistente e atinge tanto áreas urbanas quanto regiões de conservação ambiental. As partículas identificadas têm origem em embalagens, tecidos sintéticos, produtos domésticos e materiais de pesca, evidenciando a ligação direta entre hábitos de consumo e degradação marinha.
O presidente da Fapeg, Marcos Arriel, destaca o compromisso da instituição com a pesquisa científica de fronteira. “É por meio da pesquisa de fronteira que surgem as soluções para os desafios mais complexos. Elas se traduzem em tecnologias, serviços e políticas públicas que beneficiam a sociedade e preparam o país para enfrentar crises ambientais e sociais”, ressalta. Para Arriel, o projeto mostra como a ciência produzida em Goiás contribui para o Brasil e o mundo.
Além do artigo científico, o MicroMar prepara um relatório técnico para o MMA e as secretarias estaduais de meio ambiente. O projeto também deve expandir o monitoramento para regiões insulares e estuarinas, com o objetivo de criar um banco de dados nacional sobre microplásticos e fortalecer a integração entre ciência, governo e sociedade. “Traduzir o conhecimento científico em soluções práticas é o caminho para reduzir a poluição plástica e preservar os ecossistemas costeiros”, conclui Malafaia.
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Apreciador de boas histórias, filmes e games. Repórter no portal Gazeta Culturismo.
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