Maestro Macambira reflete sobre o papel da inteligência artificial na música negra e defende: “O que é de raiz, não muda”

Reconhecido internacionalmente, maestro baiano esteve em Goiânia para ministrar oficina de ritmos afros e será protagonista do documentário "Ressonâncias e Preservações", da diretora goiana Sereia do Cerrado

Maestro Macambira

Será lançado no próximo dia 2 de novembro, o documentário “Ressonâncias e Preservações”, que propõe um mergulho nas tradições musicais afro-indígenas do Brasil, valorizando expressões culturais que resistem ao apagamento histórico. A obra conta com a colaboração do percussionista Maestro Macambira, referência da música afro-brasileira, e do indígena Txihi Pataxó, entre outros mestres e guardiões da memória ancestral. O filme será disponibilizado gratuitamente no canal da produtora Laboratório Alquímico, no Youtube.

Idealizado pela cantora, compositora e produtora Sereia do Cerrado, o projeto nasceu a partir de uma pesquisa realizada entre Goiânia, Salvador e na Costa do Descobrimento (BA), envolvendo visitas a terreiros, comunidades tradicionais e vivências em uma aldeia Pataxó.

Maestro Macambira é fundador da Escola Internacional de Percussão da Bahia e já colaborou com artistas como Gilberto Gil, Beto Barbosa, Banda Eva, Sandra de Sá e Tim Maia. O mestre é reconhecido internacionalmente por dominar os ritmos de Orixás — Ketu e Angola. Este ano esteve em Goiânia e ministrou uma oficina gratuita de música afro-brasileira no Orum Aiyê Quilombo Cultural, reunindo jovens e admiradores da cultura afrodescendente.

Em entrevista exclusiva para a jornalista Mari Magalhães, Maestro Macambira refletiu sobre o impacto das inteligências artificiais na criação musical, sobretudo na música afrodescendente, e a importância da juventude na continuidade das tradições. Confira:

  1. O Brasil carrega uma herança musical africana muito rica, mas também marcada por apagamentos históricos. Como o senhor percebe esse processo de silenciamento?

Maestro Macambira:
Não há silêncio. O que falta é consciência. As pessoas precisam entender que é preciso falar, abrir caminhos para uma nova etapa da história e garantir que ela continue viva. Essa história africana, dos ritmos, é muito bonita, cheia de energia e beleza. O importante é não deixar que ela se cale — é trabalhar para que o mundo a conheça cada vez mais.

  1. O senhor domina os ritmos de Orixás. Como a musicalidade africana se transforma ao chegar ao Brasil e o que se mantém como essência dessas tradições?

Maestro Macambira:
A transformação dos ritmos é uma riqueza. O candomblé já traz uma grande força, e é essencial repassar esse conhecimento aos jovens, para que conheçam suas raízes. Quando trabalhamos com eles em oficinas e projetos, estamos traduzindo a sabedoria dos nossos avós e tataravós. É preciso saber reconhecer, traduzir e ensinar esses ritmos, para que cada afrodescendente busque e conheça um pouco mais da sua origem. Axé!

  1. O avanço das inteligências artificiais no campo da criação musical levanta debates sobre autoria e preservação cultural. O senhor acredita que essas tecnologias representam uma ameaça às canções tradicionais afro-brasileiras?

Maestro Macambira:
Não, não representam ameaça. O importante é que, mesmo com a tecnologia, a gente não fuja das raízes. As tradições afro-brasileiras e africanas estão ligadas — são irmãs. As pessoas do mundo todo querem tocar o afro-brasileiro, o candomblé, conhecer os terreiros e entender os orixás. As raízes não mudam. O que é de raiz, você não muda. Pelo contrário: essas novas ferramentas podem nos inspirar e ampliar nossa criatividade. Devemos agradecer aos orixás por essa liberdade e força criativa que vem dos ritmos. Eles são alegria, são riqueza. Eu vejo luz — cada vez mais luz — para o mundo e para a juventude de hoje.

  1. Ao longo da sua trajetória, o senhor colaborou com grandes nomes da música brasileira. Como foi conciliar o universo popular da música comercial com a preservação da musicalidade de matriz africana?

Maestro Macambira:
Esses grandes nomes trouxeram força e luz. A maioria deles entende a importância dessa cultura e fala sobre os ritmos, sobre aquilo que muita gente ainda precisa conhecer melhor. Hoje, os artistas contribuem mais. Há mais espaço para os afrodescendentes, inclusive na mídia e na publicidade, algo que antes era muito limitado. Isso é um avanço. A cultura afro-brasileira é muito rica — quem não vê, é porque não quer ver. Temos ainda muito o que mostrar, traduzir e levar de alegria para o mundo. É isso que me move.

Serviço
Documentário “Ressonâncias e Preservações”
Data de lançamento:
2 de novembro de 2025
Onde: Canal Laboratório Alquímico no Youtube: @laboratorioalquimico6068
Mais informações: Instagram @projetoressonanciasgo


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Autor: Mari Magalhães

Mari Magalhães é jornalista, roteirista, assessora de imprensa e fotodocumentarista com mais de 10 anos de atuação na cultura goiana Seu foco está voltado para novos talentos da música urbana contemporânea, cinema e atividades da cena underground. Contato:[email protected]

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