Trabalho manual ganha visibilidade com projeto de profissionalização
Entre curvas de barro e traços delicados de um trabalho feito à mão, uma nova geração de artesãos goianos tem conquistado reconhecimento, renda e propósito. De Goiás para o Brasil e até para o mundo, essas pessoas vêm ultrapassando fronteiras e ganhando visibilidade. Por trás dessa transformação está o projeto estadual de artesanato do Sebrae Goiás, que oferece capacitações, consultorias e acesso a mercados, ampliando os horizontes de pequenos produtores com grandes sonhos.
Iniciado no fim de 2021, o programa já apresenta resultados concretos em toda a cadeia criativa do estado. Segundo Daniela Caixeta, gestora de artesanato do Sebrae Goiás, o principal objetivo da iniciativa é “fomentar o segmento do artesanato em Goiás, apoiando artesãos e potenciais empreendedores a se tornarem grandes empresários”.
Mais do que ensinar técnicas, o projeto busca preparar os artesãos para posicionar seus produtos com identidade e estratégia no mercado. Daniela explica que a instituição atua de forma ampla, apoiando diferentes tipos de produção artesanal, desde trabalhos em couro, madeira, bambu e cerâmica, até criações com papel, vidro, metais, mármore, cimento, cortiça, entre outros materiais.
De acordo com dados oficiais, somente em 2024, a iniciativa já atendeu 5.667 artesãos. Esse investimento no empreendedorismo artesanal tem mudado a realidade de centenas de famílias, abrindo portas que antes pareciam trancadas por falta de oportunidade, visibilidade e apoio especializado.
Com dezenas de ações durante todo o ano, a instituição impulsiona o artesão até a etapa de venda. “Nós temos um projeto com um planejamento de ações, que são desenvolvidas durante o ano. A gente dá consultoria para esses artesãos, cursos, capacitação e ainda facilitamos o acesso deles ao mercado, a fim de que eles possam comercializar o produto. Todo o apoio que eles precisam para se tornarem grandes empreendedores, o Sebrae oferece”, destaca Daniela Caixeta.
Além do impacto pessoal e emocional, a iniciativa tem forte contribuição para a economia criativa do estado. O projeto proporciona grandes oportunidades aos artistas, como a participação em renomados eventos, incluindo a Feira de Arte Goiás (Fargo) e a CasaCor Goiás.
Daniela reforça a importância do apoio ao setor: “Esse trabalho gera renda para as famílias e transforma vidas”. Em um cenário econômico desafiador, muitos têm encontrado no artesanato não apenas uma fonte de renda, mas também uma chance real de autonomia e valorização cultural.
O Sebrae atua como ponte entre o talento bruto e o mercado qualificado. “Temos crescido muito com o projeto e o segmento está cada vez mais forte em Goiás”, celebra a gestora de artesanato. Segundo ela, o objetivo é fazer com que cada artesão se reconheça também como empreendedor, capaz de transformar a cultura local em produto de valor para o Brasil e o mundo.
A história da ceramista Tuka Pereira é um exemplo vivo do impacto desse trabalho do Sebrae Goiás. Incentivada por Carmelito Pereira, a quem considera mestre e amigo, ela ganhou sua primeira barra de argila há 12 anos. Desde então, percorreu um caminho de dedicação, estudo e resiliência. Mas foi com o projeto da instituição que a artesã aprendeu a precificar seu trabalho, identificar o público-alvo e teve a oportunidade de participar de grandes eventos, como a prestigiada CasaCor Goiás.
Sua presença no evento foi um divisor de águas. “Meu trabalho deu um salto”, afirma. A visibilidade trouxe novos contatos, vendas e autoconfiança. Com sua arte, Tuka diz se despir de amarras e transmitir a leveza e a tranquilidade que carrega dentro de si, oferecendo ao público mais do que peças decorativas: emoção.
Apaixonada pelo que faz com as mãos e com o coração, Tuka agora se dedica com carinho ao trabalho: “Sempre soube que queria ser artista, desde criança que faço trabalhos manuais. Sempre gostei de desenhar, pintar, cantar e passei por diversas áreas artesanais. Agora me dedico somente à arte.”
Ela acredita que o reconhecimento vem com o tempo e com ele, também o retorno financeiro. “Na arte, é preciso respeitar o tempo de maturação”, afirma. Essa paciência tem rendido frutos. Hoje, Tuka Pereira sonha com exposições internacionais e com a possibilidade de deixar sua marca na memória das pessoas. “Se eu levo a minha arte por aí e as pessoas guardam ela com carinho, é uma forma de me manter viva por muito tempo”.
Questionada pelo portal Gazeta Culturismo sobre o significado do artesanato em sua vida, a ceramista declara: “A arte para mim é uma realização pessoal. Nela eu transmito muito de mim, mostro um pouco de quem sou de verdade. Me dispo de amarras que me foram impostas e mostro a leveza e tranquilidade que tenho dentro de mim e que gostaria de transmitir para as pessoas. A maioria das minhas peças passa muita leveza. O que é necessário nesse mundo louco que vivemos.”
Assim como Tuka, milhares de artesãos são impactados todos os anos com a profissionalização. O que antes era visto como hobby ou renda complementar, agora é reconhecido como negócio, cultura e potência transformadora. E no centro dessa virada, estão as mãos que moldam, os olhos que criam e as instituições que acreditam.
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Jornalista pós-graduada em Comunicação Organizacional e especialista em Cultura, Arte e Entretenimento. Com ampla experiência em assessoria de imprensa para eventos, também compôs redações de vários veículos de comunicação. Já atuou como agente de viagens e agora se aventura no cinema como roteirista de animação.
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