A permanência de um repertório popular
Marília Mendonça talvez seja o ícone sertanejo que mais resistiu ao tempo após sua partida. Mesmo quatro anos depois do trágico acidente aéreo que interrompeu sua vida e carreira, a voz da cantora segue pulsando nas plataformas, reafirmando o tamanho do seu legado e a profundidade da sua presença na cultura musical brasileira.
Em outubro de 2025, um novo capítulo dessa história foi escrito com o lançamento de “Segundo Amor da Sua Vida”, faixa inédita de Marília com arranjos renovados. A música chegou às plataformas digitais em 23 de outubro e rapidamente se tornou um dos vídeos mais vistos no YouTube e um dos mais ouvidos no Spotify brasileiro um feito que não é apenas estatístico, mas emocional.
O sucesso dessa faixa mostra algo que já se vinha desenhando: a obra de Marília Mendonça não envelhece, ela ressoa. Sua forma de escrever sobre amor, dor, traição e autonomia feminina continua sendo consumida com intensidade porque fala diretamente ao público e porque, em cada nova geração, alguém encontra nas suas letras o próprio espelho. Os temas que ela explorava em vida, como o descompasso das relações e a força da mulher frente à vulnerabilidade, seguem atuais.
Mas o momento também é de tensão. Neste ano, o projeto póstumo Manuscritos da Rainha pensado para reunir composições inéditas deixadas por Marília foi vetado pelo administrador legal da herança da artista, gerando debate entre fãs e especialistas sobre direitos, memória e o papel da família e das gravadoras na preservação da obra.
Esse impasse expõe uma questão que ultrapassa a música em si: como equilibrar o desejo coletivo por mais material da artista com o respeito à sua história pessoal e à ética artística? É um dilema que ecoa entre fãs e críticos, porque a obra de Marília pertence simultaneamente ao coração de milhões e à esfera íntima de sua família.
Enquanto isso, outros projetos póstumos como o lançamento ao vivo Decretos Reais Lado B continuam a alimentar o catálogo disponível, relembrando tanto seus maiores sucessos quanto a versatilidade da sua voz em diferentes contextos.
Criticamente, esse momento é revelador: Marília Mendonça já não é apenas um nome do sertanejo; ela se tornou parte do repertório sentimental de um país inteiro. A música lançada agora em 2025 não é nostalgia vazia é a prova de que as emoções que ela capturava em vida ainda falam com os ouvintes de hoje. Sua trajetória e seus lançamentos póstumos continuam a movimentar não apenas paradas de sucesso, mas conversas sobre memória, identidade e presença artística.
No fim, o legado de Marília Mendonça é maior do que qualquer disputa ou decisão administrativa: ele está nas vozes que ainda cantam suas letras emocionadas, coletivas e sempre atuais.
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Felipe Cordeiro é poeta, escritor e radialista com ampla experiência no universo da comunicação. Nordestino e estudante de Jornalismo na UFG, carrega na voz e na escrita a força da cultura popular. Apaixonado por música, arte e pelas histórias que brotam do cotidiano, dedica-se aos estudos e vive intensamente o que a rua, a noite e a vida têm a ensinar. Contato: [email protected]
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