Estímulos digitais em excesso podem comprometer a concentração e aumentar quadros de ansiedade e depressão
O brasileiro passa mais de nove horas por dia conectado à internet. É o que aponta um relatório de 2024 da We Are Social e da Meltwater. A maior parte desse tempo é dedicada às redes sociais e aos vídeos curtos, como Reels, TikTok e Shorts do YouTube. Mas o hábito, que parece inofensivo, pode desgastar silenciosamente o cérebro.
Especialistas vêm alertando para os riscos dessa exposição constante. O psiquiatra da Unimed Goiânia, Flávio Augusto de Morais, chama a atenção para o fenômeno conhecido como “brainrot”, um termo popular que se refere a um cérebro sobrecarregado ou “cansado”. Segundo ele, o excesso de estímulos visuais e sonoros está causando desequilíbrios cognitivos e emocionais. “Esse tipo de conteúdo extremamente rápido e superficial, com muitos estímulos visuais e sonoros, causa uma sobrecarga no cérebro”, afirma.
O médico explica que, com o tempo, o cérebro passa a se adaptar a esse ritmo acelerado e perde gradualmente a capacidade de foco e de absorção de conteúdos mais complexos. Crianças, adolescentes e adultos já estão sendo afetados por essa nova forma de consumo digital.
O psiquiatra também destaca os efeitos emocionais desse consumo exagerado. A exposição constante a conteúdos idealizados pode gerar sentimentos de inadequação, ansiedade e até depressão. “Você fica o tempo todo exposto a estímulos, sem pausas. Isso afeta o cérebro. E quando essa exposição vem junto com a comparação a padrões inatingíveis, seja de vida, sucesso ou aparência, pode gerar tristeza, sensação de inadequação e até quadros depressivos”, alerta.
Outro ponto preocupante é o tempo de exposição ininterrupta. Crianças chegam a passar duas, até três horas seguidas assistindo a vídeos curtos, o que impede o cérebro de realizar pausas cognitivas, essenciais para manter o equilíbrio emocional. “É comum vermos pessoas, inclusive crianças, passando duas, três horas seguidas a vídeos curtos. Isso impede que o cérebro tenha pausas, o que é essencial para o equilíbrio emocional”, ressalta o psiquiatra.
A ausência dessas pausas pode gerar um estado permanente de tensão e dificultar o desenvolvimento de habilidades como concentração, memória e raciocínio profundo.
Para reduzir os danos, os especialistas recomendam adiar ao máximo o uso do celular próprio por crianças e adolescentes, idealmente até os 16 anos. Quando o uso for inevitável, é fundamental haver supervisão e limites de tempo de tela.
Outro caminho é escolher conteúdos mais longos, que exijam atenção contínua e promovam o pensamento reflexivo. “Se for assistir a algo no YouTube, por exemplo, priorize vídeos com pelo menos 10, 15 ou 30 minutos. Eles desativam o raciocínio e a concentração, ao contrário dos vídeos curtos que apenas estimulam a liberação de dopamina de forma imediata”, explica.
A dica vale também para adultos: limitar o tempo de tela, evitar conteúdos viciantes e buscar momentos longe do digital pode ser a chave para recuperar o foco, o bem-estar e a saúde mental. A era da hiperconexão exige novas estratégias de autocuidado.
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Biólogo por formação, atualmente cursando Engenharia Ambiental. Apreciador de filmes e jogos de vários gêneros. Começou a escrever web novels, até chegar a posição de repórter.
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